terça-feira, 22 de junho de 2010

Ninguém pode ficar de fora


Qual é o nosso contributo na luta contra a pandemia que assola o nosso país?


  • Oferecemos algumas sugestões apresentadas pela voz autorizada da irmã e medica Raquel Gil, o passado dia 1 de Dezembro, na celebração oficial do dia de luta contra o SIDA, na presença do Presidente da República e outras autoridades.

    “Permitam-me assinalar brevemente três pontos que me parecem essenciais.

    1- O primeiro ponto diz respeito às nossas irmãs e aos nossos irmãos já infectados com HIV.
    No meu trabalho, passo o dia a tratar doentes seropositivos que precisam tratamento anti-retroviral. Se faltar este tratamento todos sabemos que as pessoas não poderiam sobreviver ao vírus. Portanto, partimos deste princípio básico: é necessário que todos os doentes seropositivos que precisem tenham acesso ao tratamento anti-retroviral (TARV).
    Mas também não é menos certo que se bem o TARV é imprescindível, não é suficiente.
    O vírus do SIDA afecta a pessoa toda, não só o seu corpo, mas também a sua mente, o seu projecto de vida, a sua família, até a sua alma.
    Portanto, além da dose diária de ARV, os nossos irmãos precisam de muitas doses de compreensão, esperança e encorajamento.
    Nós, os trabalhadores da saúde, temos o dever de tratar sempre com dignidade, com respeito, com carinho, com empatia, aos nossos pacientes pois só isto supõe mais de 50% do tratamento.
    Mas este não é um assunto só da área da saúde, pois o SIDA é mais que uma doença, é mesmo o maior problema que assola o nosso povo e ameaça com acabar com gerações inteiras.
    Para fazer frente a este problema, é necessário um trabalho conjunto de todas as áreas da sociedade: Saúde, Educação, Mulher e Acção Social, Justiça…
    Só assim num trabalho integral e em equipas multidisciplinares é que poderemos recuperar as pessoas infectadas, ajudá-lhes a reconstruir as suas vidas e, se necessário, a reintegra-las na sociedade.

    2. O segundo ponto diz respeito à prevenção de novas infecções com HIV:
    Nós actualmente conhecemos a cara do nosso inimigo, conhecemos como ele se transmite, o que ele gosta de comer e como se reproduz. Se já dispomos de suficiente informação sobre ele, como é que não conseguimos ganhar a batalha?
    Penso que não se trata duma falta de INFORMAÇÃO, mas de uma falta de DECISÃO.
    Ainda há muitas pessoas que, apesar do risco em que colocam a sua vida e a vida dos outros, não se decidem a abandonar condutas e hábitos que favorecem a transmissão do vírus.
    Vai-se criando uma corrente transmissora, na que cada pessoa se converteu num elo dessa corrente, num agente de transmissão e, neste caso, num agente de morte.
    Desta maneira o vírus passa livremente duma pessoa a outra. As pessoas alimentam o vírus e ficam escravas dele pois ele usa-as para crescer e multiplicar-se.
    A única maneira de vencer ao vírus é cortar a corrente, cortar o meio que ele utiliza para espalhar-se. E como cortamos essa corrente? Cortamo-la dizendo NÃO!

    -NÃO ÀS RELAÇÕES SEXUAIS OCASIONAIS
    -NÃO À INFIDELIDADE
    -NÃO ÀS REDES SEXUAIS
    -NÃO AO CASAMENTO PRECOCE
    -NÃO ÀS RELAÇÕES SEXUAIS NA ADOLESCENCIA
    -NÃO AO ABUSO DE MENORES
    -NÃO À EXPLORAÇÃO DA MULHER.


    Quando dizemos NÃO, cortamos a corrente e no lugar de ser agentes de morte nos convertemos em agentes de VIDA.
    Dizemos SIM à vida e criamos uma nova corrente, uma NOVA EPIDEMIA que não contagia vírus senão
    que contagia RESPONSABILIDADE,
    que contagia RESPEITO,
    que contagia FIDELIDADE,
    que contagia IGUALDADE
    e sobretudo que contagia ESPERANÇA .


3. E, por último, o terceiro ponto que penso ser o mais importante: Nesta luta não estamos sós, Deus está connosco e, aconteça o que acontecer, nunca nos abandona.
Quando o povo de Israel estava escravo no Egipto, tinha muitas poucas probabilidades de sair com vida do Egipto, o Faraó e o seu exercito eram fortes demais.
Mas o povo acredito que era possível sair da escravidão e guiado por Moisés atravessou o deserto até chegar a terra prometida
Tal como ao povo de Israel, Deus pede de nós que façamos uma opção radical pela VIDA e decidamos sair da escravidão a que este vírus do SIDA nos submete, que decidamos sair do Egipto que nos oprime. Deus não nos vai substituir, precisamos de trabalhar duramente todos juntos e unidos. O deserto não é fácil de atravessar, significa abandonar costumes, hábitos e comportamentos.
Mas Deus está a nosso lado e caminha connosco fortalecendo os nossos esforços e alimentando a nossa esperança. Precisamos acreditar n’Ele, acreditar em nós mesmos, acreditar que somos capazes e que conseguiremos atravessar o deserto a caminho da terra prometida,
UM MOÇAMBIQUE LIVRE DE SIDA.”

Irmã Raquel Gil
Missionária Dominicana do Rosário

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